VISTA DOS JARDINS DA VILA MÉDICI TEMÁTICA Velásquez realizou este pequeno quadro durante sua estada em Roma. A documentação histórica demonstra que o pintor teve licença, em 1630, para residir temporalmente na Vila Médici. Lá ele realizou outra paisagem do mesmo tipo. Em ambos os casos, os jardins palacianos se tornam o motivo de suas telas. Não se trata de nenhuma incumbência. Os dois quadros são fruto de um interesse e de uma satisfação pessoais. A crítica contemplou a possibilidade de que pertençam ao segundo período do sevilhano na Itália. Se for assim, haveria que datá-los entre os anos 1650 e 1651. Na tela se escolhe o instante em que uns homens olham uma moça que estende umas roupas no balaústre do jardim. Uns ciprestes fecham o fundo da composição. O artista executou este obra trabalhando diretamente sobre a paisagem natural. Não se trata de uma pintura de estúdio. Esta circunstância é bastante significativa, pois não era uma prática freqüente até aquela época. Alguns holandeses, colegas seus, haviam começado a pintar ao natural alguns anos antes, também em Roma. ANÁLISE TÉCNICA E ESTILÍSTICA Do ponto de vista técnico e estilístico, este quadro tem especial relevância. Trata-se de uma dos primeiras paisagens pintadas ao ar livre. As primeiras experiências neste campo foram levadas a cabo por uns paisagistas holandeses, por volta do ano 1620. O cenário foi também a cidade de Roma. Esta prática continuaria com Claudio de Lorena, na década dos quarenta. Trata-se de um artista francês que realizava paisagens de corte idealista. Mas suas obras eram, neste caso, desenhos. Aqueles desenhos são vistos pelos especialistas como o precedente mais imediato desta tela. A composição é bastante equilibrada. Pode se dividir em duas franjas integradas pelo friso de ciprestes e pelo arco tapado com tábuas. A presença humana é simplesmente episódica. O mestre se preocupa pela captação da luz e da qualidade atmosférica. A pincelada prescinde da minúcia e do detalhe preciso, realizando-se uma magistral síntese de formas. Para isso se emprega uma pincelada rápida e solta, sem grande preocupação com o desenho. Os verdes e dourados se aplicam sobre a tela com uma liberdade de traçado que surpreende por sua modernidade. INTERPRETAÇÃO A importância desta tela e seu par reside em várias circunstâncias. O artista realiza esta vista por iniciativa própria. Não se trata de nenhuma incumbência. Obedece a um desejo de experimentação exclusivamente pessoal. Velásquez pinta para si mesmo. Isto precisa ser valorizado cuidadosamente, tendo em conta que o sevilhano é, primeiro que tudo, um criado dedicado exclusivamente ao serviço de Filipe IV. Do ponto de vista estilístico, há que se insistir na inovação que supõe pintar paisagens ao natural, naquela época. A prática geral consistia em realizar um desenho rápido. Seu referente direto era a própria natureza. Mas a obra definitiva se levou a cabo no ateliê. Velásquez, com esta iniciativa, será um dos primeiros que abre caminho nesta prática, fundamental em experiências pictóricas posteriores. O mestre aplica o óleo como se se tratasse de aquarela, omitindo os detalhes. Esta obra faz gala de uma prodigiosa liberdade de execução. Sua realização se adianta em vários séculos aos trabalhos de Corot ou Monet. Esta experimentação técnica não voltaria a repetir-se na evolução pessoal do autor.